Em 2018, o investimento programado pela indústria química brasileira deverá cair a US$ 700 milhões, mesmo valor aplicado em 2015, em plena crise econômica, e equivalente ao mais baixo orçamento desde 1995, segundo previsão da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Ao mesmo tempo, a participação dos importados na demanda nacional ganhou ritmo e, de 14% em 1995, chegou a 38% no ano passado, a mais alta desde o início da série histórica, em 1990.
"Se a demanda continuar crescendo neste ano, a participação dos importados, que estão tomando o lugar do produto nacional, vai renovar o recorde", diz o presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo.
O avanço das importações, que são dominantes principalmente nos segmentos de intermediários para fertilizantes e insumos farmacêuticos, também está refletido no déficit comercial da indústria, que voltou a crescer após três anos de queda. Em 2017, o Brasil importou US$ 37,2 bilhões em produtos químicos, resultando em saldo negativo na balança de US$ 23,4 bilhões.
Em volume, a demanda por produtos químicos de uso industrial cresceu 6% no ano passado, para importações 21,1% superiores e produção nacional apenas 1,85% maior. "O grande problema é que não há novas fábricas planejadas", diz Figueiredo, ao comentar o declínio nos investimentos programados pelo setor. "Num momento em que o Brasil fica rico em óleo e gás, os investimentos que poderiam ser feitos não são", acrescenta.
Matéria-prima pouco competitiva e preço da energia, um dos principais insumos da indústria, ajudam a explicar a decisão de empresas do setor de investir em outros países ou não levar adiante projetos já desenhados. Entre 2012 e 2016, os investimentos no setor chegaram a US$ 11,6 bilhões - comparáveis a US$ 3,3 bilhões executados ou previstos entre 2017 e 2022. Mas US$ 2,3 bilhões em projetos executados nos últimos cinco anos ainda não entraram em operação.
No ano passado, os investimentos da indústria caíram ao patamar de US$ 1 bilhão. E, segundo a Abiquim, o encolhimento nos desembolsos, cada vez mais limitados à manutenção das operações existentes, tende a se manter até 2022, consolidando o menor ciclo de investimentos do setor nas últimas décadas. Diante desse prognóstico, Figueiredo não poupa críticas ao governo. "O governo não aceita o fato de que é necessário ter uma política industrial", diz.
Há anos, representantes dos poderes Executivo e Legislativo federal discutem com a indústria química medidas que possam sustentar o desenvolvimento da atividade no país. Um dos principais pleitos é o uso do gás natural como matéria-prima -- e acesso em condições competitivas ao insumo.
O atual ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, tem dito a interlocutores da indústria que pretende "deixar encaminhado" esse assunto antes de deixar a pasta, o que deverá acontecer no início de abril.
De fato, seu ministério patrocinou a criação de um novo grupo interdisciplinar, com vistas a estudar a área de refino e petroquímica, após participar de um encontro com representantes do setor no fim do ano passado.
Mas a primeira reunião do grupo, em 29 de janeiro, terminou sem avanço, diz Figueiredo. "Não conseguimos sequer apresentar nossa proposta, que já foi classificada como política industrial, o que não é tolerado por esse governo", afirma. Nesta semana, a indústria levará o assunto à Frente Parlamentar da Química (FPQ), numa tentativa de agendar novo encontro com o ministro.
Relançada em 2016, a FPQ tem apoio de mais de 250 deputados federais e senadores em estados onde a indústria tem operações.
(Fonte: Valor Econômico – 06/02/2018)